Mais um capítulo da falta de entendimento entre a prefeitura de Curitiba e o governo do estado em relação ao fim da integração econômica, que acabou com tarifa única para o transporte nos municípios da Região Metropolitana. Em entrevista nesta quinta-feira (16), o secretário de Desenvolvimento Urbano (SEDU), Ratinho Jr (PSC), disse que a desintegração foi uma decisão da Urbanização de Curitiba S/A(Urbs) e que esta avalanche de reclamações de usuários, principalmente de Araucária, é culpa da prefeitura que transformou Curitiba em uma ilha.
Ratinho Jr se referiu a decisão da Urbs de impedir nesta quarta-feira (15) a entrada dos ônibus da linha Araucária/CIC no Terminal da Cidade Industrial porque a linha foi desativada cerca de um mês atrás e, por decisão da Coordenação da Região Metropolitana de Curitiba (Comec), subordinada ao governo, reativada sem o órgão de Curitiba ter sido avisado.
“Essa linha sempre existiu, há muitos anos. Nós da Comec, junto com a prefeitura de Araucária, a um custo caríssimo, conseguimos trazer esta linha de volta para facilitar a vida do usuário e a Urbs simplesmente disse que não tinha mais espaço no terminal da CIC. Então ou o terminal encolheu ou os ônibus aumentaram. Há 30 dias essa linha existia e funcionava normalmente”, afirmou Ratinho Jr. Hoje, o usuário de Araucária, chega a pagar até R$ 10,60 para o trajeto de ida e volta a Curitiba. Se pagasse apenas duas passagens de ida e volta, como sempre aconteceu, gastaria R$ 6,60.
O secretário disse ainda que foi dele a iniciativa de sugerir ao prefeito de Araucária, Olizandro José Ferreira (PMDB), de procurar a Urbs nesta quarta-feira para tentar um entendimento direto. “Falei para o prefeito Olizandro pra falar com a Urbs até porque, muitas vezes, é uma questão política, vai que não gostam de alguém da Comec, mas nem falando diretamente com a Urbs ele conseguiu”, disse. Questionado se o acordo entre Urbs e prefeitura de Araucária sair, se a Comec vai autorizar, Ratinho Jr afirmou: “Claro que sim. Se conseguirem o acordo, não haverá problemas. Foi uma motivação nossa. O presidente da Comec Omar Akel falou para o prefeito tentar resolver com a Urbs. Queremos uma solução”, completou.
O prefeito Olizandro disse, em entrevista à Gazeta do Povo, que está tentando um acordo direto com a Urbs, mas ainda não sabe o modelo que seria adotado. “O povo não tem e não deve mesmo ter mais paciência. Enquanto a Urbs e a Comec mantiverem o distanciamento, quem vai pagar são os municípios metropolitanos. Agora sou eu, mas daqui a pouco vai ser Campo Largo, Fazenda Rio Grande [etc]. Precisamos de uma proposta verdadeira de integração metropolitana”, reclama. Olizandro disse que a alternativa sai até o fim da semana
Na Banda B, ratinho Jr afirmou que já procurou o Ministério Público pedindo que intermedie uma solução e que vai entrar na Justiça caso a Urbs não autorize nesta quinta-feira a entrada da linha Araucária/CIC no terminal da Cidade Industrial. “Curitiba não pode ser uma ilha. A Urbs não pode fechar os portões da cidade. Se não houver uma resolução hoje entre as duas prefeitura pra fazer a linha voltar e oferecer assim uma alternativa para que a população de Araucária pague só duas passagens para ir e vir, vamos entrar na Justiça com pedido de liminar”.
Entrega de cargo
O secretário comentou ainda a decisão do diretor-presidente da Comec, Omar Akel, de colocar o cargo à disposição nesta quarta-feira. Chefe imediato de Akel, Ratinho Jr minimizou a iniciativa e disse que não abre mão dele.
“Não está acontecendo nada. Akel é um profissional maravilhoso, um dos grandes talentos técnicos em transporte público. O pedido veio porque ele está se sentindo enfraquecido diante de inúmeras tentativas de falar com a Urbs, que não se sensibiliza. Então, ele pensou que o problema é ele, mas não abrimos mão de Akel de jeito nenhum”, garantiu.
O governador Beto Richa não aceitou a substituição de Akel pelo momento.
Outro lado
A Banda B está a caminho de um evento com a presença do prefeito Gustavo Fruet no bairro Sítio Cercado, na manhã desta quinta, que deve ter, inclusive, a presença do prefeito de Araucária, Olizandro Ferreira, para ouvir os dois sobre as declarações de Ratinho Jr.
Nota Urbs
A Urbs enviou nota à Banda B explicando o que, no entendimento do órgão, acontece na linha Araucária/Curitiba. Reitera que o Terminal CIC não tem a infraestrutura necessária para receber mais passageiros. Segue a nota na íntegra:
“Para entender o que acontece na ligação Araucária/Curitiba.
O município de Araucária tem um sistema de transporte local (CMTC) que gerencia as linhas dentro da cidade, incluindo as que vão dos bairros até o Terminal Araucária. A partir do Terminal Araucária, as linhas são metropolitanas, gerenciadas pela Comec, e trazem os usuários até os terminais da Urbs, integrando com o sistema urbano de Curitiba, gerenciado pela Urbs.
Antes de fevereiro:
O cidadão pagava uma passagem no sistema local de Araucária, chegava nos terminais de Araucária (Central e Angélica), entrava nos ônibus metropolitanos, gerenciado pela Urbs, sem pagar outra passagem e, nos terminais de Curitiba, pegava qualquer ônibus sem pagar nova passagem.
No terminal CIC passavam o Ligeirinho Araucária/Curitiba, que tinha uma frota de 26 ônibus e vinha até a Desembargador Westphalen, na Rui Barbosa. Quem vinha de Araucária para Curitiba, usava essa linha que transportava por dia 19,9 mil passageiros.
No Terminal CIC também passava a linha alimentadora Angélica/CIC. Essa linha saía do Terminal Angélica em Araucária, fazia um trajeto circular na Cidade Industrial de Curitiba, passando pelas empresas Bosch, Kraft, etc, etc e, quando chegava no Terminal CIC era apenas ponto final. Quem usava essa linha queria ficar na CIC, não vir para o centro de Curitiba. Era uma linha de baixa demanda, com um ônibus a cada 70 minutos.
Depois de fevereiro:
A CMTC, que administra o sistema local, estabeleceu sua própria tarifa (R$ 2,50 no cartão CMTC e R$ 3,30 em dinheiro). Isso representou a desintegração do transporte urbano e metropolitano dentro de Araucária.
Quando o cidadão chega no Terminal Araucária, tem que pagar outra passagem para usar o sistema gerenciado pela Comec (R$ 3,30).
Quando ele chega em Curitiba, no entanto, nada mudou: ao chegar nos terminais Capão Raso, Pinheirinho e Portão (onde atualmente param os ônibus provenientes de Araucária), o usuário usar qualquer ônibus do sistema gerenciado pela Urbs sem pagar nova passagem.
Hoje (15/04)
A linha criada pela Comec, sem passar pela análise técnica da Urbs e sem autorização da Urbs, ligava bairros de Araucária ao Terminal CIC de onde os usuários seguiriam para o sistema integrado da Urbs. Esses bairros já são atendidos por alimentadores do Terminal Angélica.
O terminal CIC, porém, não tem a infraestrutura necessária para receber mais passageiros. Além de ser um terminal pequeno – onde a parada de mais uma linha criaria sérios riscos de acidentes e dificuldades de operação, prejudicando usuários urbanos e metropolitanos –, ele oferece poucas opções de linha para os passageiros seguirem viagem. Para o centro de Curitiba e Eixo Sul, a única opção é o Ligeirinho Cabral/CIC. A maioria dos ônibus urbanos que param no terminal CIC são alimentadores e só há uma linha de Ligeirinho, a Cabral/CIC.
Vale lembrar que esta linha foi criada pela Urbs em fevereiro para atender os usuários da antiga linha Colombo/CIC que foi extinta pela Comec e substituída pela Maracanã/Cabral, com trajeto muito menor.
Diante disso, a Urbs ofereceu à Comec a alternativa de utilização do terminal Pinheirinho como ponto final da nova linha. No Pinheirinho, o cidadão tem um número bem maior de opções, incluindo três ligeirinhos e três biarticulados (incluindo o Ligeirão). Ou seja, se 100 pessoas desembarcarem de um ônibus vindo de Araucária, no Pinheirinho, em poucos minutos terão seguido para seus destinos.
A Urbs lembra ainda que no terminal CIC existem duas estações tubo, mantidas pela Urbs à disposição da Comec. São as estações onde antes paravam os ônibus do ligeirinho Araucária/Curitiba e que agora não passam mais por ali, por decisão da Comec.
Os ônibus comuns, como os da linha que havia sido criada hoje, não têm condições de utilizar as estações, cujo mecanismo só funciona a partir do engate das plataformas.
Resumindo:
A linha anunciada pela Comec é completamente diferente da linha Angélica/CIC, que até fevereiro parava no terminal CIC. A Angelica/CIC era uma linha alimentadora que circulava por dentro da Cidade Industrial, ligando a área das empresas com Araucária. A Comec extinguiu esta linha em fevereiro.”, encerra a nota
A Comec pode voltar a ligar Araucária à CIC a qualquer momento, basta para isso utilizar a linha já existente, do ligeirinho Araucária/Capão Raso.
A Comec também pode utilizar o Terminal Pinheirinho para essa linha anunciada hoje.
Do Portal BandaB