
Denunciado por homicídio qualificado na morte do jogador Daniel Corrêa Freitas, o jovem Ygor King, de 20 anos, lamentou o crime em carta enviada à irmã. A Banda B teve acesso à mensagem nesta sexta-feira (21). Nela, Ygor pede desculpas e diz que foi covarde no dia do assassinato. Ele é um dos três jovens que foram com Edison Brittes Júnior até a Colônia Mergulhão, local onde o corpo de Daniel foi encontrado.
A carta foi enviada por Ygor à irmã foi escrita na prisão e a veracidade dela foi confirmada pela defesa dele. Segundo o advogado Robson Domacoski, o relato foi escrito na terceira semana de prisão de Ygor, mas a equipe de defesa também só teve acesso a ela agora.

Estudante de Direito, Ygor chega a lamentar na carta ter que deixar os sonhos de lado, incluindo o de fazer faculdade. “Meu sonho de advogado já era, nada faz mais sentido para mim. As pessoas aí fora acham que sou um monstro e tudo isso porque eu fui covarde e tive medo, não soube o que fazer, fiquei apavorado. Não tenho mais gosto pela vida, só queria saber por que Deus está fazendo eu passar por tudo isso. Só espero que você me perdoe, eu amo vocês mais que tudo”, descreve.
Sobre o crime, o jovem diz que apenas estava “no lugar errado e na hora errada”. “Não durmo bem e não consigo entender o porquê estou nesse lugar por uma coisa que eu não fiz”, diz.
Para Domacoski, a carta mostra a condição psicológica de Ygor. “Ali, o que podemos entender é como está a cabeça desse menino. Embora estar no local de um crime, não significa ter participado. A gente percebe que ele está muito abalado e que passou por uma situação muito triste. Ele foi vítima de ameaça, tanto que obedeceu a ordem de entrar no carro”, disse.
Perfil
Segundo o advogado, toda a história de vida de Ygor é bastante complicada e a relação de proximidade dele com Allana [Brittes] é bastante recente. “Ele foi abandonado pela mãe, foi criado pela avó, que também o deixou depois. O irmão adotivo se suicidou e ele presenciou, entrando em tristeza profunda e foi nesse velório que retomou contato com a Allana. Em um primeiro fim de semana, não foi, mas no segundo foi até a Shed. Ele só foi por incentivo da família, já que estava em estado de depressão”, explicou.
Desde o início, Ygor nega qualquer participação direta na morte de Daniel. Neste momento, a defesa estuda um possível pedido de liberdade, já que não tem passagem pela polícia, tem casa própria e esteve três vezes na delegacia pedindo para falar espontaneamente.
Confira a carta na íntegra
Oi minha irmã, primeiramente queria pedir desculpas por tudo isso. Só quero que você saiba que eu não tenho nada a ver com isso tudo. Infelizmente eu tava no lugar errado na hora errada, tenho pesadelos todos os dias, não durmo bem, não consigo entender o porquê estou neste lugar por uma coisa que eu não fiz.
A vida inteira fazendo as coisas certas, sempre estudei, trabalhei, nunca coloquei uma droga na boca, sempre quis fazer o certo, ser alguém na vida para vocês se orgulharem de mim e tudo foi por água abaixo por uma coisa que não fiz. Se um dia eu sair desse lugar, não sei o que vai ser da minha vida.
Meu sonho de advogado já era, nada faz mais sentido para mim. As pessoas aí fora acham que sou um monstro e tudo isso porque eu fui covarde e tive medo, não soube o que fazer, fiquei apavorado. Não tenho mais gosto pela vida, só queria saber por que Deus está fazendo eu passar por tudo isso. Só espero que você me perdoe, eu amo vocês mais que tudo.
Manda um beijo para todos.
Amo você.

O caso
Daniel foi encontrado morto na manhã de 27 de outubro, na zona rural de São José dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba. Ex meia de Coritiba e São Paulo, ele atualmente atuava no São Bento, time da série B do Campeonato Brasileiro. De acordo com a polícia, ele estava em uma festa na casa da família Brittes e morreu após enviar fotos de Cristiana para um grupo de amigos no WhatsApp.
Investigações apontam que pelo menos quatro pessoas teriam participado das agressões contra o jogador. Já bastante machucado, ele foi colocado no porta-malas de um veículo Veloster e levado até a Colônia Mergulhão. Neste local, pelo menos duas pessoas teriam carregado o corpo do jovem até uma plantação de pinus, segundo conclusão de perícia do Instituto de Criminalística do Paraná.
Sete pessoas foram denunciadas pelo crime: Edison Brittes Junior, Eduardo Henrique da Silva, Ygor King e David Willian Vollero Silva – homicídio triplamente qualificado, com motivo torpe, meio cruel, impossibilidade de defesa da vítima, ocultação de cadáver e fraude processual; Cristiana Brittes – por homicídio qualificado; Allana Brittes – fraude processual e coação de testemunhas; e Evellyn Perusso – fraude processual e falso testemunho.
Banda B