Discreto, voz baixa, alinhado, prudente, extremamente formal, ouve mais que fala, conciliador, dialoga com todos, ardiloso, voraz para conseguir cargos no governo, sem carisma político, imagem pública indefinida e político profissional. Estas são algumas das características que políticos e jornalistas de todo o País usam para descrever Michel Temer (PMDB), 75 anos, o vice-presidente da República que pode assumir o lugar de Dilma Roussef (PT), de forma interina ou definitiva, conforme for o andamento do processo de impeachment dela no Senado.
Lula e Dilma não o queriam como vice, na eleição de 2010. Mas acabaram percebendo nele um grande articulador político, com muita influência entre os deputados federais, o que poderia facilitar para Dilma aprovar medidas no Congresso Nacional. Dilma percebeu que ela e o PT não podem governar sozinhos e por isso vinha usando melhor a influência de Temer sobre os deputados em seu segundo mandato, para garantir mais estabilidade ao governo. Mal sabia Dilma que a aliança PT-PMDB se transformaria em guerra PTx PMDB, com Temer pouco interessado em evitar o impeachment dela.
Vice tem origem libanesa
Michel Miguel Elias Temer Lulia é de uma família de libaneses, católica, que desembarcou no Brasil em 1925. Três dos oito irmãos nasceram no Líbano e os outros no Brasil. Temer é o caçula, nascido em 23 de setembro de 1940. Assim que chegou, seu pai comprou uma chácara em Tietê (SP), onde instalou uma máquina de beneficiamento de arroz e café e os negócios começaram a prosperar.
Michel e outros irmãos foram estudar na capital paulista, onde ele se formou bacharel em Direito pela USP e doutor em direito pela PUCSP. É considerado um dos maiores constitucionalistas do país (especialista em Constituição Federal) e um dos seus quatro livros publicados na área, “Elementos do Direito Constitucional”, já está na 20ª edição e é um dos mais usados nas faculdades de Direito, com mais de 200 mil exemplares vendidos.
Marcela: beleza impressiona. |
Quase primeira-dama
Temer está em seu terceiro casamento, agora com a bacharel em Direito Marcela Tedeschi Araújo Temer, 32 anos, há 13 anos. Com ela tem um filho, apelidado de Michelzinho, 7 anos. Do primeiro casamento, com Maria Célia, teve três filhas: Maristela, 44 anos, Luciana, 41, e Clarissa, 39. Casou-se a seguir com Neuza, mas não teve filhos. Depois, teve um “relacionamento estável”, sem casar. Na mesma época, namorou uma jornalista em Brasília, com quem teve um filho, hoje com 10 anos. Dizem que ele dá uma pensão ao menino, mas o vê pouco.
Conheceu Marcela quando ela estava com 18 anos, num jantar de campanha eleitoral no restaurante do tio dela. Recebeu um e-mail dela cumprimentando pela vitória e, como a tinha achado muito bonita, a convidou para jantar. Marcela foi ao encontro com a mãe. Quatro meses depois, os dois estavam casados.
Começou como oficial de gabinete
Michel Temer entrou na vida pública como oficial de gabinete de Ataliba Nogueira, secretário de Educação do Estado de São Paulo. Em 1983, recebeu o convite para ser procurador-geral do Estado. No ano seguinte, licenciou-se do cargo para ser secretário de segurança de São Paulo (pasta que chefiou novamente nos anos 90). Mesmo hesitante em aceitar o cargo, foi aí que começou sua imagem de bom articulador político, já que conseguiu negociar de forma brilhante a desocupação que 400 estudantes da USP fizeram ao prédio da reitoria; e a desocupação de um prédio invadido por semterra.
À frente da Secretaria de Segurança, implantou projetos depois copiados por outros estados: em 1985 criou os Conselhos Comunitários de Segurança (Consegs), depois a primeira Delegacia da Mulher no Brasil, a Delegacia de Proteção aos Direitos Autorais e a Delegacia de Apuração de Crimes Raciais. Depois da rebelião no presídio do Carandiru, que teve 111 detentos mortos, em 1992, ele conseguiu diminuir as rusgas que existiam entre Polícia Civil e Polícia Militar e, de certa forma, fazer as duas instituições trabalharem em conjunto.
Seria o 3.º vice que vira presidente
O PMDB, que hoje é o maior partido brasileiro, é chamado de fisiologista, ou seja, preocupado em ocupar o maior número de cargos possíveis no governo, para manter-se forte e garantir reeleição. Temer, que a vida toda foi fiel à sigla, não gosta do PMDB ser chamado assim.
Pela terceira vez um político do PMDB pode assumir a presidência da República sem ter sido eleito por votos. A primeira vez que isto aconteceu foi quando Tancredo Neves adoeceu, dias antes da posse, em 1985, e a República foi assumida pelo vice José Sarney. A segunda vez que isto ocorreu foi quando Fernando Collor de Melo renunciou ao cargo, em 1992, enquanto tramitava seu processo de impeachment no Senado. Entrou Itamar Franco.
Ele não está imune a escândalos
Em 2009, a Operação Castelo de Areia, da Polícia Federal, descobriu uma lista de doações não declaradas da construtora Camargo Corrêa a vários políticos e pessoas influentes. A construtora é suspeita de financiar campanhas políticas, com dinheiro de caixa 2. O nome de Temer foi citado 21 vezes. Acredita-se que ele recebeu mais de R$ 500 mil. A operação acabou anulada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), por irregularidade na coleta de provas.
Temer voltou a ter seu nome figurado em escândalo na Operação Caixa de Pandora, que investigava o mensalão do DEM. O dono de um jornal local acusou Temer de ter recebido dinheiro para articular a saída de Joaquim Roriz do governo do Distrito Federal. Temer negou a denúncia e abriu uma ação contra o proprietário do jornal.
Dilma e Temer respondem a processo no Supremo Tribunal Federal (STF), de responsabilidade fiscal, por conta das pedaladas fiscais. Juntos, eles respondem a quatro ações no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que pedem a cassação de seus mandatos por abuso do poder econômico e político. Nestes processos, também são suspeitos de terem recebido dinheiro de recursos desviados da Petrobras para a campanha eleitoral.
Há chance de Temer ser investigado pela Operação Lava Jato, da Polícia Federal, porque o senador Delcídio do Amaral (ex-PT) afirmou que Temer deu aval para indicar envolvidos em irregularidades na Petrobras para serem diretores da estatal.
Temer assumiu o PMDB e rompeu com Dilma. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil. |
Seis vezes deputado
Michel Temer se filiou ao PMDB em 1981 e, anos depois, se lançou como deputado federal. De 1987 a 2011, foi deputado seis vezes (1987-1991/1991-1995/1995- 1999/1999-2003/2003-2007/2007-2011). Entre os projetos aprovados como parlamentar estão: de combate ao crime organizado, de criação dos juizados especiais, do Código de Defesa do Consumidor, da garantia de direito de voto dos cabos e soldados e da inviolabilidade dos advogados no exercício da profissão.
Por três vezes (1997, 1999 e 2009), foi presidente da Câmara dos Deputados. No terceiro mandato neste cargo, tomou medidas contra o trancamento da pauta, fazendo com que as votações não ficassem paradas por causa de medidas provisórias. Ele também criou um sistema de comunicação, que permitiu que as sessões e discussões no plenário se tornassem públicas.
Como presidente da Câmara, assumiu a Presidência da República interinamente por duas vezes: de 27 a 31 de janeiro de 1998 e em 15 de junho de 1999. Presidiu o PMDB por 11 anos, até sair do cargo, no início de 2011, para assumir a vice-presidência da República, no primeiro mandato de Dilma Rouseff. Em julho de 2014, reassumiu a liderança nacional do partido e se licenciou em 5 de abril deste ano, logo após a legenda anunciar a ruptura com o governo Dilma.