
Por Aécio Novitski / Da Redação
A última terça-feira, dia 20, foi emblemática e ao mesmo tempo caótica para o município de Araucária. A Operação Fim de Feira, deflagrada pelo GAECO, em parceria com o Ministério Público de Araucária, culminou na prisão do então prefeito Rui Alves de Souza e um ex-secretário do município, além de um lobista, foi, talvez o último ato de uma tragédia anunciada segundo falava-se nos bastidores do poder municipal.
Sem governo, com todos os secretários acuados, e com uma operação de busca em apreensão em andamento, coube ao secretário municipal de comunicação social, Pedro Rodrigues Neto, o pesado papel de responder pelo município em meio a um caos sem precedentes. “A operação é assunto da justiça e dos advogados dos envolvidos, precisamos pagar os salários e o décimo terceiro, essas pessoas não podem passar o final de ano assim. Tem mais de mil e quinhentos servidores que ganham menos que dois salários mínimos, como vão ficar sem dinheiro?”, dizia o secretário à imprensa enquanto somava esforços com representantes dos sindicatos em meio a um tumulto jamais visto no município.
Nossa reportagem procurou o secretário na manhã de hoje, passado todo o tumulto para saber quais as razões que o levaram a tomar aquela atitude, de onde tirou a força necessária para assumir sozinho uma crise daquela magnitude. “Eu era o único ali no início da manhã, fui acordado as 6h pela imprensa me pedindo explicações sobre a prisão do prefeito, lembro que me levantei e pensei “o governo caiu”, contou Pedro que é jornalista formado há 10 anos.
Segundo o Neto sua primeira ação foi se colocar a disposição dos agentes do Gaeco e da promotoria para auxiliar no que fosse necessário. “Precisavam de uma chave para subir ao gabinete, fomos providenciar e já em seguida me dei conta de que eu tinha no estacionamento da prefeitura não apenas a imprensa e o GAECO, mas centenas de servidores apreensivos por conta de todo o contexto, dos riscos de ficar sem salário. Foi então que decidi assumir as rédeas e passei a despachar da garagem mesmo”, contou. O secretário conta que buscou junto aos sindicatos o apoio para que fosse possível coordenar as ações que desenrolariam o pagamento do décimo terceiro e contou ainda com a ajuda da Procuradoria Geral do Município e de servidores da secretaria de finanças. “A prioridade era acalmar a situação, atender a imprensa, dialogar com os sindicatos e servidores e tratar de agilizar os trâmites para que, quando o presidente da Câmara fosse notificado, tudo estivesse pronto”, contou.
Hoje, o secretário foi exonerado junto com o restante da equipe do antigo governo e, embora tenha sido convidado pelo ex-prefeito Olizandro a assumir o cargo em maio deste ano, permaneceu na gestão de Rui Souza por uma escolha pessoal. “Eu decidi enfrentar esses desafios, não foi um ano fácil, não foi nada fácil. Quando cheguei existia um clima de animosidade muito grande nas relações entre a administração e as entidades e na medida do possível fui sanando essas diferenças, buscando conversar, respeitar as entidades, as pessoas e dessa forma poder equilibrar as relações e gerenciar as crises que não foram poucas. Cada um escolhe seu caminho, cada um é dono de suas próprias decisões e responsável por suas escolhas. Eu escolhi fazer meu trabalho da melhor maneira possível. Remanejei todo o orçamento da secretaria, mais de R$ 1 milhão, para o Fundo de Previdência e a Saúde Municipal, somei forças para que num momento tão difícil as pessoas ainda fossem respeitadas e ouvidas, ainda tivessem o direito de chegar a sede do poder executivo e poder manifestar suas opiniões e angústias”, disse.
Sobre sua exoneração, após todo o esforço feito um dia antes para manter o mínimo de equilíbrio possível no município, o jornalista de 35 anos foi taxativo. “Saio de cabeça erguida e com o sentimento de que fiz meu melhor, fui correto e honesto conforme era minha obrigação de ser. Sou grato a todos, em especial a minha equipe da Secretaria de Comunicação, servidores valorosos e exemplares que merecem todo o respeito pelo que fizeram ontem. Desejo toda a sorte ao novo prefeito, Hissam, com quem pude conversar hoje pela manhã e desejo que pelas mãos dele a cidade possa ter dias de prosperidade e tranquilidade. Desejo ainda toda o sucesso ao novo secretário de comunicação, Preto Francheschi, com quem mantive um bom contato nos últimos 40 dias, durante a transição, e também ao Evelosio Santos, que assume a secretaria nesses últimos dez dias. A cidade e o povo de Araucária não merecem mais passar por tantas coisas ruins como vimos nos últimos meses, desejo que tudo corra bem e volte a sua normalidade”, concluiu.