
Às vésperas das manifestações contra o governo Dilma Rousseff (PT) pelo país, marcadas para domingo (13), o pedido de prisão feito pelo Ministério Público de São Paulo contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pode acirrar ainda mais os ânimos. “Não há uma evidente urgência nessa prisão. E estamos num cenário extremamente delicado, às vésperas de manifestações, onde a detenção do ex-presidente pode ser mais ameaçadora da ordem do que a sua liberdade”, diz o professor de Direito Penal da UFF e do Ibmec-RJ Taiguara Souza. É possível que haja manifestações favoráveis ao governo no mesmo dia em pontos do país. Curitiba, porém, não está na lista.A Gazeta do Povo mostra, após o pedido de prisão de Lula, como fica o cenário no qual vão se desenrolar as manifestações, o impacto que elas poderão ter sobre o Congresso e o alerta que vem sendo feito para quem decidir sair às ruas. Também explica como será o protesto em Curitiba.
O CENÁRIO
Inicialmente, o PT chamou manifestações para o dia 13, após a condução coercitiva de Lula dentro da Lava Jato. Em São Paulo, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) chegou a vetar a realização de uma manifestação pró-Dilma na Avenida Paulista, alegando temer o confronto com os protestos marcados anteriormente por movimentos a favor do impeachment.
O PT voltou atrás a pedido do Palácio do Planalto – que temia um “banho de sangue”. Entretanto, após isso ocorrer, o Ministério Público de São Paulo (MP-SP) ofereceu denúncia e pediu a prisão preventiva de Lula.
Para o cientista político Luiz Domingos Costa, do grupo Uninter, o pedido, por si só, aumenta o risco de violência para o próximo domingo. “O pedido do Ministério Público é um discurso político, que pode fomentar o discurso contrário e favorável. O clima deve piorar muito”, diz. Atos pró-Dilma não estão previstos para Curitiba.
Para ele, há três cenários possíveis: o primeiro, e mais grave, é caso Lula seja de fato preso. O segundo é caso não haja uma definição até domingo – não há prazo para a Justiça se manifestar a respeito. Nesses dois casos, é provável que o pedido estimule manifestações de militantes pró-governo e possibilite eventuais embates. Caso o pedido seja rejeitado, a possibilidade de confrontos é menor – visto que as chances de protestos pró-Lula diminuem. “Ainda assim, isso não deixa de jogar água no moinho”, diz.
Os movimentos do domingo pedem o fim do governo Dilma Rousseff (PT), o fim da corrupção e apoiam as investigações da Lava Jato. A mais nova bandeira dos movimentos é impedir uma possível nomeação de Lula ao cargo de ministro. No Paraná, outras 11 cidades têm manifestações marcadas para a data. Em Curitiba, a concentração está marcada para as 14 horas, na Praça Santos Andrade, Centro.
O IMPACTO
No Congresso Nacional, parlamentares da oposição e também da base aliada reconhecem que as manifestações marcadas para domingo (13) podem ter peso nos rumos do processo de impeachment contra Dilma Rousseff (PT) na Câmara dos Deputados. É o segundo protesto desde a deflagração do impeachment na Casa, no início de dezembro.
Naquele mês, as manifestações contra o governo atraíram menos gente, na comparação com os demais protestos ocorridos ao longo de 2015. Agora, combalido pelos últimos desdobramentos da Lava Jato, o Planalto volta sua atenção para as ruas. A preocupação ocorre porque, embora distantes do processo formal em curso na Câmara, os movimentos de rua influenciam o comportamento dos parlamentares, que votarão abertamente no plenário sobre o impeachment.
O analista político do Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar), Antônio Augusto de Queiroz, chama a atenção ainda para o fato de a manifestação ocorrer em um momento de “infidelidade partidária” autorizada. Ele se refere à “janela partidária”, que fica aberta até o dia 19. “A manifestação será um referencial para as bancadas partidárias. Se houver um protesto robusto, haverá reflexo imediato na governabilidade, porque aquele parlamentar que está em um partido no qual ele sabe que não pode votar contra o impeachment, por exemplo, vai ter permissão para trocar de partido”, observa ele.
Questionado sobre qual seria o impacto no Congresso se as manifestações tiverem baixa adesão, o analista conclui que “um eventual fracasso não vai ter o condão de dar gás à oposição no processo de impeachment”, mas acrescenta que o debate entre defensores da permanência de Dilma e aqueles que desejam a destituição da petista “certamente se acirraria”. “Eu acho que o ambiente no Congresso Nacional pode ficar hostil, pode virar um ambiente de guerra”, acredita ele.
O ALERTA
O juiz federal Sergio Moro pediu “calma e serenidade” aos manifestantes que devem ir para as ruas de todo o Brasil no domingo (13). Ele participou na noite de quinta-feira (10) de uma palestra para cerca de 2 mil pessoas, na Federação das Indústrias do Paraná (Fiep).
Gazeta do Povo