Emocionado durante o velório da primeira-dama Margarita Sansone, o prefeito de Curitiba, Rafael Greca revelou, na manhã desta quarta-feira (21), as últimas palavras que ouviu da esposa no Hospital Marcelino Champagnat, onde ela estava internada e acabou falecendo na manhã de terça-feira (20).
“Fala postumamente da minha Margarita, essa é a entrevista que não queria dar. Momento de memória e gratidão. Ela, no leito de morte, disse que estava muito contente comigo. Só isso pode aliviar a minha dor”, disse o prefeito, muito emocionado durante a entrevista.
O velório de Margarita acontece nesta quarta-feira (21) no Memorial de Curitiba, seguido de missa, às 15 horas, no mesmo local. Segundo Greca, a primeira-dama foi um anjo que viveu ao lado dele durante 50 anos.
“Ela realizou todos os sonhos, todas as viagens. Eu fazia todas as vontades dela e ai se não fizesse. A melhor vontade dela foi sempre fazer o bem. Margarita não desperdiçou nenhum dos dias. Lembrar dela com o coraçao curitibano e por amor a Curitiba”, destacou Greca.
Ainda na entrevista, o prefeito lembrou do trabalho voltado à área social feito pela primeira-dama. “Pioneira no resgate social, na criação das mesas solidárias gratuitas e na criação da Fundação de Ação Social (FAS). Eu pretendo constituir um fundo com o nome da Margarita para alimentar muita gente e fornecer segurança alimentar aos mais pobres”, conclui.
Presidente no velório, o vice-prefeito de Curitiba, Eduardo Pimentel, destacou o tempo em que pôde trabalhar junto com Margarita. “Tive privilégio de estar ao lado dela durante anos na Prefeitura de Curitiba. Uma mulher que se dedicou a área social, onde criou a FAS e um dos programas mais especiais para ela que era a Pousada Maria, voltado para acolhimento mulheres em vulnerabilidade social “, ressaltou.
Velório de Margarita acontece no Memorial de Curitiba (Foto: Nosso Dia)
Referência
Margarita Sansone foi referência e pioneira em várias áreas, desde o social ao cultural, passando pelo Jornalismo, circulando com desenvoltura por onde passou.
Nos últimos oito anos, ao lado do prefeito Rafael Greca, como primeira-dama de Curitiba, Margarita foi sempre um ponto de inspiração e de novas ideias para o prefeito.
Margarita deixou sua presença marcada pelo carisma e sensibilidade. Dedicou-se à poesia, à crônica e ao Jornalismo, mantendo uma coluna semanal em vários jornais de Curitiba durante vários anos.
Era contemporânea e colega de artistas, intelectuais e jornalistas da capital, de renome nacional, como Paulo Leminski, Paulo Vítola, Adherbal Fortes de Sá Júnior, Mussa José Assis, Manoel Carlos Karam e Eddy Antônio Franciosi. Arquitetos como Rodolpho Doubek, Oscar Mueller e Júlio Pechmann também integravam seu círculo de amigos.
Poliglota, falava inglês, espanhol, francês, catalão e italiano (a língua de seus avós Bamonte Sansone).
Margarita Sansone (Foto: Prefeitura de Curitiba)
Esteve ao lado e foi inspiração para o prefeito Rafael Greca em toda a trajetória política dele, como vereador, deputado estadual e deputado federal, secretário de Estado do Paraná e ministro de Estado do governo Fernando Henrique Cardoso, bem como nas três gestões de Greca como prefeito de Curitiba (1993-1996 / 2017-2020 / 2021-2024).
Muito devota, visitou 18 vezes o Santo Papa João Paulo II, no Palácio Apostólico do Vaticano, por quem o casal tinha profunda admiração.
Trajetória
Margarita Elizabeth Pericás Sansone nasceu no dia 7 de junho de 1945, em Curitiba. Batizada na Catedral dedicada à Nossa Senhora da Luz dos Pinhais, era filha de Margarita Fany Araceli Pericás Sansone e do médico Francisco Sansone. Na infância, se dividia entre a casa dos pais e dos avós, os catalães dona Paquita e o doutor Bernardo Pericás Moyá, atencioso médico e primeiro oftalmologista de Curitiba, que moravam na Rua XV, no Centro.
Era prima do embaixador Bernardo Pericás, que fez importante carreira no Itamaraty.
De sorriso generoso, reflexo de sua grande alma, Margarita estudou na Escola Dona Lulú Seiler Veiga e no Colégio Nossa Senhora de Sion.
Margarita graduou-se em Língua e Literatura Francesa pela Universidade de Nancy (França) e na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Também era bacharel em Economia formada pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e recebeu bolsa de estudos da Escola Dante Alighieri de Roma (Itália) para o curso de graduação em Literatura, História da Arte e Arqueologia.
Na juventude, Margarita conheceu o então acadêmico em Economia e Engenharia, Rafael Greca de Macedo, com quem viria a se casar em 1º de setembro de 1992. A cerimônia se deu na capela do Palácio Episcopal de Curitiba, residência do arcebispo Dom Pedro Fedalto, que foi padrinho do casamento, bem como na presença do cônego Aleixo de Souza.
Ainda namorados, Margarita e Rafael Greca encamparam a causa do restauro da Igreja da Ordem Terceira de São Francisco das Chagas, a partir de 1978, fundando a “Associação de Amigos da Igreja da Ordem Terceira dos Franciscanos” que, por mais de 30 anos, foi a unidade de ação social mais expressiva do Paraná.
Em 1980, com apoio da Fundação Roberto Marinho, Margarita fundou e organizou o Museu de Arte Sacra da Arquidiocese de Curitiba, o primeiro do Paraná, ao lado da Igreja da Ordem Terceira de São Francisco das Chagas.
Em 1988, como jornalista da Internacional Socialista, observou as primeiras eleições constitucionais no Paraguai.
Entre os livros que escreveu destacam-se a obra “O Dentro da Gente”, de versos com capa pintada por seu amigo Juarez Machado; “O Interior do Povo”, poemas editados pela Editora Martins de São Paulo; “Fundação Cultural de Curitiba, na Fronteira do Novo Milênio”; e “Sergio Ferro, um artista brasileiro”.
Também assinou com o prefeito Rafael Greca as edições do livro “Curitiba – Luz dos Pinhais”, de resgate da história da capital paranaense, e foi responsável pelo posfácio da obra “Paranismo”, lançada em 2023 e que trata do movimento cultural regional que surgiu no começo do século XX, para valorização da identidade do Paraná.
Margarita ainda liderou várias campanhas de caridade durante as Festas da Ordem, evento criado por ela e Rafael Greca e realizado entre 1979 e 2009, tendo contemplado a cada ano com os recursos arrecadados uma entidade diferente, como Pequeno Cotolengo, Santa Casa de Misericórdia, Asilo São Vicente e albergue da Federação Espírita do Paraná, em um movimento ecumênico e de solidariedade sem precedentes na história de Curitiba. Um trabalho de caridade realizado ao lado de amigas como Fani Lerner, Dona Francisca Greca, Dona Terezinha Greca de Macedo, Lenita Camargo Izique, Marta Moro, a desembargadora Regina Helena Afonso de Oliveira Portes, Rosário Amaral, Marilu Stellfeld Cavalcanti de Albuquerque e a doutora.
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