
A Federação Nacional dos Bancos (Fenaban) apresentou na noite de ontem uma nova proposta para encerrar a greve nacional dos bancários que completa 31 dias hoje. A federação aumentou a proposta com reajuste de 8% mais o abono de R$ 3,5 mil, e garantiu a reposição da inflação mais 1% de ganho real para 2017. Também ofereceu aumento em outros benefícios, como vale alimentação e refeição, acima da inflação — 15% e 10%, respectivamente. O Comando Nacional dos Bancários orienta aprovação da proposta e os sindicatos realizam assembleias nesta quinta-feira (6) em todo o país. Em São Paulo, Curitiba, e outras capitais, as assembleias dos trabalhadores estão marcadas para o fim da tarde. A orientação pelo fim da greve também foi feita às propostas específicas para o Banco do Brasil, Caixa Econômica e Banco do Nordeste.
A exigência da Fenaban, porém, é que a oferta vale apenas para assembleias que sejam realizadas ainda hoje. A oferta final foi apresentada depois de quase seis horas de negociação, já no final da noite. A negociação demorou porque primeiro a Fenaban disse que não descontaria os dias parados dos grevistas, mas queria a reposição dos dias de greve sem limite de prazo.
Dentro da Campanha Nacional deste ano, a defesa do emprego está entre as prioridades, sendo tema constante de debate com a Fenaban. Neste sentido, a negociação conquistou a instalação de um Centro de Realocação e Requalificação Profissional nos bancos. Com participação bipartite, o projeto vai buscar realocar os funcionários ameaçados pela reestruturação em um determinado local, criando possibilidades de serem transferidos para outras áreas da própria instituição e assim evitar demissões.
Sobre os dias parados durante a greve, a Fenaban insistia na compensação de todos, sem prazo limite. Mas o Comando Nacional não aceitou a postura dos banqueiros e conseguiu arrancar, na mesa de negociação, o abono total dos dias parados. A Fenaban disse, porém, que proposta só vale até as assembleias desta quinta-feira (6), com retorno ao trabalho na sexta feira (7).
Roberto von der Osten, presidente da Contraf-CUT e um dos coordenadores do Comando Nacional dos Bancários, avalia que os bancários saem vitoriosos de uma das campanhas mais difíceis dos últimos anos, impactada pela conjuntura política e econômica do país.
“A primeira proposta de Fenaban que reajustava nossos salários em 6,5% foi apresentada no dia 29 de agosto, em plena efervescência política do processo de impeachment, que aconteceria dois dias depois. Iniciamos nossa greve com um novo governo, que estabeleceu medidas e ajustes que prejudicaram as nossas reivindicações. Os banqueiros insistiram em um modelo aplicado nos anos 90 na Era FHC de reajustar salários abaixo da inflação e conceder abono para compensar a diferença”, ressaltou Roberto.
O presidente da Contraf-CUT também destacou a discussão sobre um novo modelo de acordo que não resultasse em retrocesso para a categoria. “O debate de um modelo diferente, que garantisse que aquela velha fórmula não voltaria em 2017 apareceu no cenário e foi considerado importante pelo Comando. A presença dos bancos públicos na CCT de 2017 e a garantia de reajuste acima da inflação para todos era fundamental. Debatido com os bancos, foi garantido pela unidade nacional, pela nossa mobilização e pela forte greve. Garantimos ainda avanços no VA, VR e Auxilio Creche/Babá. Garantimos a extensão dos direitos e valores para todos os bancos públicos, diferente dos anos 90, mas uma vitória inédita foi a garantia do não desconto e da não compensação dos dias da greve, um instrumento medieval de punição dos grevistas”, avaliou, ao falar também da luta dos bancários contra ações que tentaram enfraquecer a greve. “Foi uma luta desigual onde os bancos utilizaram todo o seu arsenal: a mídia, as associações comerciais, o judiciário, os interditos, as ameaças, a boataria e os constrangimentos. Nada disso derrotou a nossa greve da qual nos orgulhamos muito. Queremos sair dela com a nossa dignidade intacta e com o sentimento de que fizemos o nosso melhor. A luta nos garantiu”, reforçou Roberto von der Osten.
Durante a décima rodada de negociação, os bancos também concordam em implantar a licença-paternidade de 20 dias, conforme lei sancionada neste ano, durante o governo Dilma Rousseff.
Greve histórica
Este item provocou um impasse entre o comando de greve e os bancos. O comando ficou reunido em separado por três horas, até devolver a oferta para a Fenaban, exigindo que nenhuma punição fosse aplicada aos bancários. Foi quando a Fenaban concordou em abonar as faltas durante a greve, mas condicionou que as assembleias sejam realizadas hoje. Foi a décima mesa de negociação entre a Fenaban e o Comando Nacional dos Bancários desde o dia 6 de setembro.
Até a 23h50, horário de fechamento desta edição, a negociação ainda seguia no Hotel Maksoud Plaza, em São Paulo.
Bem Paraná – Foto Franklin Freitas