
O contato dos seres humanos com os animais sempre existiu, mas essa relação foi aperfeiçoada com o passar dos tempos. Hoje estudos analisam e práticas demonstram que esse contato pode ser benéfico, tornando-se uma alternativa na reabilitação de pacientes. Principalmente cães e cavalos são utilizados em Terapias Assistidas por Animais, como é o caso da equoterapia, na qual os cavalos são usados dentro de uma abordagem multidisciplinar. Esse tipo de tratamento foi reconhecido e regulamentado como terapia de reabilitação através da Lei n° 13.830, de 13 de maio de 2019.
Em Araucária, no ano de 2019, o Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA), através de recursos oriundos do Fundo para Infância e Adolescência (FIA), ofertou tratamento equoterápico para 14 pacientes do Serviço de Saúde Especial, anexo ao Centro Municipal de Atendimento Educacional Especializado Joelma Tulio.
No entanto, desde o início de fevereiro deste ano, a Prefeitura do Município de Araucária passou a oferecer a um público maior o tratamento com os cavalos, após observar os ganhos significativos com os alunos do CMAEE. O objetivo do programa é viabilizar o referido método de reabilitação para crianças e adolescentes em famílias que têm dificuldade de custear tal terapia.
CRITÉRIOS E ENCAMINHAMENTOS PELA PMA
O pedido de encaminhamento para equoterapia é feito exclusivamente pelas equipes que atendem no Serviço de Saúde Especial (SSE), Centro de Reabilitação Infantil (CRIA), Serviço de Atenção em Saúde Mental a Criança e ao Adolescente (Secria) e Centro de Especialidades Terapêuticas (CET), pois o público alvo são crianças e adolescentes com deficiência física ou intelectual ou algum tipo de transtorno, conforme explicado pela diretora do Departamento de Atenção Especializada, Carolina Torres. Obrigatoriamente, as crianças e adolescentes a serem encaminhados para este tipo de terapia já devem fazer parte dos serviços mencionados.
A diretora comentou que a empresa ganhadora da licitação realizada no ano passado já iniciou os atendimentos. “São 103 vagas previstas pelo contrato nº 138/2020 que disponibiliza quase 5.000 sessões. Apesar da assinatura do contrato no ano passado, as sessões não foram iniciadas imediatamente devido a situação de risco para COVID-19. Então, foram solicitadas readequações no local das atividades terapêuticas pelo Comitê de Combate e Enfrentamento ao novo Coronavírus. Por isso, somente nesse mês de fevereiro é que as atividades tiveram início”, esclareceu.
Conforme o projeto elaborado, as vagas são ofertadas às crianças e adolescentes que, teoricamente, possuem mais chances de se beneficiar com o tratamento. Ainda, segundo a equipe do CET/CRIA, o maior ganho se dá em crianças na primeira infância (3 a 5 anos), nas quais a plasticidade neuronal se faz presente, permitindo assim a “estimulação precoce”. O segundo grupo a ser priorizado é a população com deficiência física, devido ao ganho motor proporcionado pelo estímulo dos movimentos do cavalo, sendo aproximadamente 1.800 estímulos em uma sessão de 30 minutos.
Carolina explicou ainda que existe a liberação de vagas de acordo com a capacidade de atendimento do Centro Hípico. “No Centro a criança também passa por avaliação da equipe multidisciplinar que dá o parecer final quanto a indicação da terapia ao paciente”, apontou.
CENTRO HÍPICO
A empresa vencedora da licitação foi o Centro Hípico 2B, localizado em frente ao CEMO, próximo a marginal da Rodovia no Xisto. A equoterapia acontece de segunda a quinta-feira, das 8h às 17h30.
A sócia proprietária do estabelecimento, que é também fisioterapeuta e instrutora de equitação, Larissa Cristina Benato, explicou que a equipe que atua junto aos praticantes é composta por educador físico, psicólogo, fisioterapeuta, auxiliar guia e instrutor de equitação. “Todos os profissionais que trabalham no Centro possuem pós-graduação em equoterapia. Além disso, realizam formações e capacitações contínuas”, informou.
De acordo com ela, existem quatro programas de equoterapia, sendo a hipoterapia, educação e reeducação, pré-esportivo e esportivo. O primeiro é utilizado para praticantes com paralisia, síndromes ou com maior comprometimento motor. Neste caso, o auxiliar guia e mais dois profissionais ficam ao lado da criança e do cavalo durante todo o percurso. “O passo do cavalo é similar ao nosso passo, então quando montamos nosso cérebro interpreta esses estímulos e passa ao praticante as reações de equilíbrio, força muscular e coordenação motora que temos quando andamos. Por isso, o praticante da equoterapia, no programa hipoterapia, tende a evoluir muito”, comentou a fisioterapeuta. Larissa explicou também que nestes casos em que o praticante possui maior comprometimento, a terapia é feita somente com andadura ao passo, porém em casos em que o praticante possui comprometimento social ou comportamental, pode ser feito o trote e até mesmo o galope em situações específicas.
Monica Regina Barão, também sócia proprietária do Centro Hípico, que é por formação pedagoga e administra o local, comentou sobre a seleção rígida dos animais que irão compor o quadro de “terapeutas”. “O cavalo precisa ser treinado e preparado para este tipo de atividade. Além de animais calmos, eles precisam ser desensibilizados para as mais diversas situações. Ainda, observamos a musculatura de dorso do cavalo, pois serão esses estímulos que precisamos oferecer ao praticante. Os animais são saudáveis e precisam estar muito bem fisicamente, para que a evolução do praticante seja propiciada”, disse.
A pedagoga explicou que todos os momentos da equoterapia são previamente estabelecidos, ou seja, a andadura mais lenta do animal é pensada pela equipe para proporcionar um tipo de estímulo ao praticante, assim como um passo um pouco mais acelerado pode gerar outras reações à pessoa que está montada. “Utilizamos toda a biomecânica do cavalo e ao final da atividade é propiciado um segundo momento em que o praticante tem outro tipo de contato, inclusive o tátil, alimentando o animal, por exemplo”, esclareceu, complementando que a equoterapia não se dá somente no momento em que o praticante está montado.
Na última segunda-feira, 15 de fevereiro, Heverton da Silva Carvalho, 10 anos, teve sua primeira experiência na equoterapia. A mãe, Zenilda Carvalho, comentou que o filho estava ansioso e que gosta muito de animais. “Moramos no Rio Abaixinho, então quando as pessoas passam a cavalo em frente a nossa casa, o Heverton fica olhando, grita, acena, demonstra que tem vontade”, revelou. Durante e ao fim da aula, foi possível observar a alegria de Heverton. “Eu quero voltar”, disse o praticante.
Já Anthony Gabriel Costa, 04 anos, realizou sua terceira aula nesta semana. A mãe do praticante, Ivani Apolinário, nota que o filho gosta do contato com o animal, pois mesmo durante a aula, há determinado momento em que os profissionais param o cavalo e estimulam o contato físico.
DEMAIS PROGRAMAS DA EQUOTERAPIA
Como citado pela sócia do Centro Hípico e fisioterapeuta Larissa, a equoterapia é categorizada em programas voltados a diferentes capacidades.
O de educação e reeducação é voltado a praticantes com síndrome de down, autismo leve ou crianças com algum tipo de atraso no desenvolvimento. O pré-esportivo é voltado a praticantes sem comprometimento cognitivo, mas que estejam com depressão ou que tenham algum tipo de atraso, por exemplo. Já o esportivo é destinado a praticantes com deficiência visual ou auditiva, que tenham como participar de paraenduro ou adestramento (modalidade olímpica).