Um evento organizado pelo Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Ônibus de Curitiba e Região (Sindimoc), na manhã de ontem (11), abriu uma série de debates sobre os desafios para se conseguir a tarifa zero no transporte integrado de ônibus da capital e região. O modelo é defendido pelo presidente do sindicato, Anderson Teixeira, que acredita que ele traria benefícios à economia da cidade e a toda a população. O que ele pede é que os trabalhadores não sejam esquecidos e também façam parte desta discussão.
“O objetivo deste evento é trazer a sociedade para o debate da tarifa zero. Como será a vida do usuário e também do transporte coletivo? Salvaguardar o emprego e puxar o debate para um encaminhamento aos trabalhadores. Todas as cidades têm essa possibilidade de tarifa zero. É uma questão política e vai dá vontade do poder concedente”, disse Anderson Teixeira, em entrevista ao Portal Nosso Dia.
Para Teixeira, um grande exemplo é a cidade de Araucária, na Região Metropolitana, que viu aumentar em 120% os usuários do transporte coletivo após reduções sucessivas na tarifa, que a partir desta segunda custará R$ 1.
“A tarifa zero traz inclusão, aproxima a periferia do Centro. Aumenta em 30 % a economia e faz muito bem às cidades. Temos o modelo de Araucária com tarifa a R$ 1 e a gratuita em Paranaguá. Sabemos que são outras cidades, com outras dimensões, mas é preciso estudar para saber como aplicarmos aqui em Curitiba. Cidades da Região Metropolitana também devem fazer parte dessa discussão. É isso que estamos propondo”, afirmou.
Anderson Teixeira em entrevista ao Portal Nosso Dia (Foto: GB – Nosso Dia)
Presente no evento para justamente explicar como foi possível reduzir a tarifa em Araucária, o superintendente do Transporte Coletivo de Araucária, Wilmer Silva, destacou que tudo começou em 2017, no primeiro ano da gestão do atual prefeito Hissam Hussein Dehaini.
“Estou aqui hoje para demonstrar os resultados que desde 2017 estamos conseguindo, em benefício ao usuário do transporte coletivo. Essa redução traz uma cadeia de melhorias; na Saúde, Meio Ambiente e menos acidentes. Em 2016, um ano antes da nossa gestão, o custo era de R$ 64 milhões e nós revisamos os contratos e passamos a administrar o transporte coletivo, tirando da iniciativa privada, reduzindo os custos em 2017 para R$ 23 milhões. Agora em 2023, com tarifa a R$ 1, o custo é de R$ 60 milhões, menos do que em 2016 com uma tarifa muito mais cara naquela época. Aumentamos de lá para cá em 120% o número de usuários do transporte coletivo; eram 32 mil em 2017 e agora são 72 mil”, explicou.
De acordo com o superintendente, o valor de R$ 1 é simbólico, já que 33% dos usuários têm algum benefício que garante a gratuidade da passagem. “Hoje eu falo que a tarifa é zero, porque grande parte anda de graça. Essa tarifa que temos hoje é praticamente zero. Eu até acredito que esse valor simbólico de R$ 1 é importante, porque tem a questão do vandalismo e da depredação, além daqueles que acabam usando o ônibus no horário de pico e sem necessidade. É importante ter este controle”, destacou.
Questionado se é possível outras cidades adotarem também a redução da tarifa, Wilmer afirmou que dizer que Araucária consegue só porque é um município rico, não passa de uma desculpa. “É possível sim. Os gestores falam que Araucária é rica e pode fazer isso. Não concordo, porque a partir de 2017 o que passamos a fazer foi reduzir os custos. Gestão com qualidade e honestidade consegue, e não por ser uma cidade rica”, afirmou.
Wilmer Silva falou sobre os bons resultados do transporte coletivo em Araucária (Foto: GB – Nosso Dia)
Prioridades
Em entrevistas neste ano, o presidente da URBS, Ogeny Pedro Maia Neto, destacou constantemente que quem quer uma tarifa zero no transporte coletivo precisa mostrar como. Sobre isso durante o evento, o presidente do Sindimoc, Anderson Teixeira, falou sobre possibilidades de realizar os custeios do transporte coletivo em Curitiba e Região. Ele destacou que é possível a tarifa zero, desde que se estabeleçam prioridades em gastos.
“Existe dinheiro para ser investido e poderia ser de uma forma mais eficiente. Podemos ter ônibus novos e trazer mais pessoas ao transporte coletivo. Serão investidos mais de R$ 200 milhões em ônibus elétricos, mas e se este valor fosse para reduzir a tarifa? Traria também benefício ao Meio Ambiente (menos carros na rua) e ajudaria a economia, voltando a falar da ligação da periferia ao Centro”, opinou.
Por fim, Teixeira destacou que para tudo isso ser possível é preciso colocar como prioridade as pautas dos trabalhadores. “Não podemos trabalhar com a surpresa. Precisamos colocar principalmente a pauta dos trabalhadores. É preciso estar preparado para uma tarifa zero e não ser pego de surpresa quando ela acontecer”, concluiu.
Além do debate proposto pelo Sindimoc, a Câmara Municipal de Curitiba criou a comissão da Tarifa Zero e também tem discutido o tema.
Nosso Dia